A formação do músico católico é fundamental e a pedra principal é sua obediência e concordância litúrgica.
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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O CANTO NA LITURGIA, 12 PONDERAÇÕES ESSENCIAIS

1) Música para pôr em evidência os “sinais dos tempos” (Lc 24,13-24)

A ousadia dos cristãos começa pela sinceridade crítica ao encarar a realidade e pela franqueza ao emitir seu ponto de vista sobre ela. Esse olhar, feito de verdade e amor, resulta numa sabedoria semelhante à de Maria, tal como podemos encontrar em Lucas, e nos capacita tanto para anunciar quanto para denunciar. 

Quando, então, a assembléia se reúne, especialmente no dia do Senhor, para celebrar a sua fé, traz para a celebração toda essa realidade de vida do povo, partilhada e meditada. E ao “fazer memória” dos acontecimentos que passaram, vai sentir necessidade de cantos, de música, quem sabe, de coreografia e dança, que ponham em evidência tudo quanto vai sendo sinalizado por esses acontecimentos. Música, canto e dança que nos alertem para os desafios da realidade presente, sem descuidar do aspecto orante e  contemplativo da celebração. 


O bom senso, a presença de espírito, o discernimento e o bom gosto da Equipe de Animação Litúrgica se encarregarão de escolher ou criar o canto certo para o momento certo da celebração, em que se fará a “Recordação da Vida”, seja imediatamente antes da proclamação das leituras bíblicas, seja ao longo da homilia, à guisa de ilustração. 

2) Música, canto e dança a serviço da Palavra (Lc 24,25-27) 

A esperança cristã desponta como o sol do amanhecer, quando “os sinais dos tempos” são confrontados com a experiência da Palavra de Deus, vivida por nossos pais e mães na fé, que a deixaram registrada nas páginas da Bíblia. 
  
É assim que a assembléia passa a dar-se conta com maior clareza e profundidade da “passagem” libertadora de Deus em sua vida. Ao descobrir o sentido maior dos acontecimentos e perceber aí a ação do Espírito do Ressuscitado, os discípulos de hoje vão recobrando a esperança e reavivando a chama da fé, da esperança e do amor. Seus corações vão de novo esquentando, à medida que a mente se ilumina. E a comunidade, apesar dos pesares, vai adquirindo um novo sentido, novo gosto e impulso. 

A música, o canto, a dança têm aí papel de primordial importância: 
  • Seja na proclamação das leituras bíblicas, sobretudo do Evangelho, ponto culminante da Revelação; 
  • Seja como resposta à Palavra proclamada, ruminando-a, mastigando-a, interiorizando-a, como é o caso do Salmo Responsorial, após a primeira leitura, na celebração dos Sacramentos ou Celebrações da Palavra; ou dos Responsos, no canto do Ofício Divino; 
  • Seja como preparação à escuta da Palavra, como parece ser o caso dos Salmos e Cânticos Bíblicos na celebração do Ofício Divino; 
  • Seja como Aclamação, antes ou depois da proclamação do Evangelho. 
3) Música para dar realce aos gestos sagrados (Lc 24,28.31.35)

Ser cristão é, sobretudo, assumir em sua prática de vida o agir do próprio Cristo, deixar-se conduzir pelo dinamismo criador e renovador do seu Espírito, fazer-se instrumento da ação libertadora de Deus (2Cor 5,17; Fl 1,21; Gl 2,20; Rm 8,14; Mt 7,15-27; Jo 14,12; 15,1-6). 
  
A celebração cristã da vida se justifica, se motiva e se consubstancia precisamente como expressão solene e testemunho vibrante da vida de uma comunidade, toda dedicada a fazer o bem e concretizar a vontade de Deus (Tt 2,14). 
  
Por isso, não basta proclamar as Escrituras e recordar os fatos salvíficos de Deus, em Cristo, no passado. Nem enaltecê-los com a mais vibrante das homilias. Tudo isso seria, no melhor dos casos, uma bela aula de História. O que interessa, no momento da celebração, é perceber esse mesmo Deus agindo no hoje de nossas vidas. E a satisfação que brota de tal experiência é que nos estimula a encarar o futuro com esperança. 
  
A Liturgia da Palavra já nos possibilitou ricos momentos de VER com realismo e sabedoria essa realidade de vida, de julgá-la à luz da Escritura, e já perceber esse AGIR de Deus em nós. 

Mas vai ser no momento seguinte, no coração do Memorial, quando proclamarmos as obras maravilhosas daquele que nos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa (1Pd 2,9) e repetirmos os gestos simbólicos do agir divino: Façam isso em memória de mim (Lc 22,19), que celebraremos, em música, canto e dança, o AGIR de Deus, por Cristo, em nós, dando assim pleno sentido e concretude: 
  • ao canto que acompanha a procissão das oferendas para a Ceia do Senhor, expressão inicial da entrega de nossas próprias vidas, em Cristo; 
  • aos Prefácios e Louvações que precedem os gestos sacramentais, culminando no “Santo”, momento apoteótico na introdução da Oração Eucarística;
  • a toda a Oração Eucarística, com seus vários elementos de invocação do Espírito, narração da Ceia e retomada dos gestos de Cristo, rememoração do Mistério Pascal e as correspondentes aclamações; 
  • ao canto do “grande Amém” (Doxologia final), cantado por todos; 
  • ao canto do “Cordeiro”, ao repartir o Pão a ser distribuído; 
  • ao canto de Comunhão, sintonizado com a Liturgia da Palavra, e ao canto após a Comunhão. 
Tudo o que foi dito é aplicado também para todos os sacramentos e bênçãos, bem como para as assembléias que se reúnem para as Celebrações da Palavra. 
   
Todos eles têm esse caráter de realçar vigorosamente a ação de Deus, em Cristo, pelo Espírito que atua em nossas vidas, como um passado, que vem se atualizando em nosso agir presente, nesses últimos dias (Lc 24,18), e nos projeta para um futuro de plenitude. Sim, porque toda essa Ação de Graças, toda essa exultação pelo bem realizado, pelas concretizações do Reino, têm como desfecho o compromisso que se renova e aprofunda na perspectiva do crescimento, de um caminhar cada vez mais decidido para a Terra Prometida, até que ele venha (1Cor 11,26). 

4) O canto e o rito

Quando a música acompanha o rito

Em toda essa prática de tocar, cantar e dançar, há cantos cuja importância se prende ao fato de acompanharem determinada ação ritual, dando-lhe maior brilho e força de significação, promovendo a participação animada e prazerosa da assembléia. 
  
Essa funcionalidade da música exige especial atenção dos autores (letristas), compositores (músicos) e demais agentes litúrgico-musicais, para que tanto as composições como a sua utilização e o próprio jeito de executá-las se afinem ao rito que acompanham. 
  
Além do mais, esses ritos podem revestir-se de significados ou conotações especiais por conta da hora do dia, do tempo litúrgico ou da festa em que vão ser executados. Tudo isso exigirá especial atenção e cuidado dos artistas e demais agentes, para que música, canto e dança expressem da melhor maneira os apelos da hora, do tempo ou da festa. 

Quando a música é o rito 

Há momentos na celebração em que tudo o que se tem para fazer é tocar, cantar e dançar. A música então é o próprio rito (por exemplo, o pedido de perdão no Ato Penitencial, o Sinal-da-Cruz, o Glória, a Profissão de Fé, o Prefácio, o Santo, as Aclamações, o Cordeiro, a Bênção final com a Despedida...). É claro que esses momentos vão necessitar de especial intuição e esmero dos artistas, mas também dos animadores do canto da assembléia e de quem preside. 

Um belo arranjo instrumental, um canto brilhante e uma rica coreografia poderão provocar, nesses momentos, verdadeiras apoteoses, como no caso do Glória, da Aclamação ao Evangelho e das grandes Aclamações Eucarísticas; ou então profunda meditação e interiorização, como no caso do Salmo Responsorial ou de um canto após a Comunhão.

Importantíssimo seria encontrar a melhor formulação em texto e melodia para peças de significação maior como o Prefácio ou Louvação, e partes da Oração Eucarística, como a invocação do Espírito, a rememoração do Mistério Pascal. 

5) A reserva simbólica

Nas suas manifestações folclóricas, para cada tempo, cada festa, cada tipo de evento, a repetir-se todo ano em determinada época, o povo reserva naturalmente determinado tipo de música. Ninguém ouve música de “quadrilha junina” no carnaval, nem frevo ou samba carnavalesco na noite de São João. Ninguém toca o Hino Nacional no dia das mães, nem canta “Minha Mãezinha Querida” num desfile militar de 7 de setembro. 
  
Cada tempo, cada festa, cada evento, têm suas músicas características. Essas músicas carregam consigo poderosa eficácia simbólica. São elas que, por força desta mesma reserva, têm a virtude de criar o clima próprio de cada tempo, festa ou evento. O que não aconteceria, se fossem cantadas aleatoriamente em qualquer oportunidade. 
  
Ora, essa “sabedoria do povo” (folclore) pode nos ajudar a todos, comunidades, artistas e agentes litúrgico-musicais, a resgatar uma maior coerência, que no passado havia, quando se cantava o Canto Gregoriano, ao se repetir cada ano, em cada tempo litúrgico, em cada dia ou festa especial, os cantos próprios daquele tempo, daquele domingo, daquela solenidade. 
  
E quando uma música, um canto novo, por alguma razão se impõe, que não seja por mera mania consumista de novidade, que ele seja composto e executado em sintonia com essa tradição que o precede e inspira. Só assim conseguiremos fazer experiência musical e litúrgica que realmente cumpra seu papel simbólico. 

6) Graus de importância do canto litúrgico na celebração eucarística

Os cantos da celebração eucarística podem ser classificados, em grau de importância, em dois blocos: os que constituem um rito e os que acompanham um rito. 

a) Principais cantos que constituem um rito: 
  • Nos Ritos Iniciais: Senhor, tende piedade de nós; Glória. 
  • Na Liturgia da Palavra: Salmo responsorial; Creio.
  • Na Liturgia Eucarística: Prece Eucarística (diálogo inicial, prefácio, santo, aclamação memorial, intervenções da assembléia, doxologia final); Pai-nosso.
b) Principais cantos que acompanham um rito:
  • Nos Ritos Iniciais: Abertura; aspersão. 
  • Na Liturgia da Palavra: Aclamação ao evangelho; respostas da oração universal dos fiéis.
  • Na Liturgia Eucarística: canto das oferendas; canto da fração do pão (Cordeiro de Deus), canto da comunhão.
Os cantos que constituem um rito são mais importantes do que aqueles que acompanham um rito. A grande vantagem daqueles é que seu texto não muda e podem ser cantados de cor, dispensando o “papel” (o folheto), que tanto dificulta a comunicação entre os participantes. E ainda: os textos dos cantos que constituem um rito, em hipótese alguma, podem ser substituídos ou parafraseados. 
  
Examine-se, também, se as melodias respeitam os diversos gêneros de textos: proclamações, aclamações, hinos etc., pois cada gênero tem uma função específica que deve ser acentuada pela melodia escolhida para esse texto. 
  
A escolha das partes cantadas, o equilíbrio entre elas e o estilo de arranjo musical que vai ser usado reflitam a importância relativa das diversas partes da celebração litúrgica. Assim, um canto para a “Apresentação das Oferendas” excessivamente elaborado, seguido por um “Santo” apenas falado, pode fazer com que a Oração Eucarística pareça menos importante do que a preparação da mesa. 
  
Fica, porém, em aberto uma questão: estaria mais de acordo com o processo de inculturação, se os textos das partes fixas fossem substituídos por textos metrificados, com rima, pela razão de na cultura musical brasileira ser pouco comum o uso de textos em prosa? 
  
Além de ser postura ecumênica, seria muito bom e enriquecedor explorar o repertório da boa música usada nas outras outras igrejas cristãs, em que excelentes músicas inculturadas estão sendo criadas, como bem conservar e usar a rica herança da Igreja de cantos e motetos latinos. 
  
Para que os participantes da celebração possam sentir-se cômodos e seguros naquilo que estão fazendo e se possa garantir uma boa celebração, com canto vibrante, é necessário verificar, antes de tudo, se o repertório está ao alcance da comunidade. 

7) As aclamações

Em cada celebração eucarística, cinco aclamações, necessariamente, sejam cantadas, mesmo naquelas celebrações em que nenhuma outra parte for cantada: o “Aleluia”, o “Santo”, a Aclamação Memorial (logo após a narrativa da Instituição da Eucaristia), o grande “Amém” (após à doxologia final) e o “Vosso é o Reino...” (após o embolismo que se segue ao Pai-nosso). Na Celebração Dominical da Palavra, três destas  aclamações não podem faltar: o “Aleluia”, antes do Evangelho, o “Santo”, após o canto da “louvação”, e o “Vosso é o Reino”, após o Pai-Nosso. 

8) Cantos do Ordinário
  • O “Senhor, tende piedade” 
  • O “Glória” 
  • O “Cordeiro de Deus” 
  • O “Creio”
  • A “Oração Universal”
9) Os cantos processionais
  • O canto de Abertura 
  • O canto de Comunhão 
10) O Salmo Responsorial

11) Cantos suplementares

Esta categoria inclui cantos para os quais não há textos específicos previstos. A rigor, são elementos facultativos da celebração, e nem precisam ser falados ou cantados. 
  • O canto de apresentação das oferendas 
  • Após a comunhão 
  • O canto de acolhida do Livro das Sagradas Escrituras 
  • O canto da paz; Embora seja usado em muitas comunidades do Brasil, o “canto da paz” não está prescrito em nenhum ritual da Igreja. Vale lembrar que o momento do abraço da paz é previsto para as pessoas se cumprimentarem. Portanto, caso se opte por algum canto, o mesmo seja executado pelo coral ou grupo de cantores e nunca substitua ou ofusque o canto que acompanha o rito da fração do pão: o “Cordeiro de Deus”. 
  • As intervenções da assembléia durante a Oração Eucarística 
  • Canto final ou de despedida; Deve haver canto final?... Normalmente, não tem sentido. A reforma conciliar pôs o “Ide em paz” como última fórmula da celebração, e seria ilógico um canto neste momento, pois a assembléia está dispensada. O ideal seria o próprio “Ide em paz”, ou fórmula que lhe corresponda, ser cantado pelo diácono ou cantor e respondido pelo canto da assembléia que se vai. Durante a saída do povo, o mais conveniente seria um acompanhamento de música instrumental. Se em alguma ocasião parecer oportuno um “canto final”, por exemplo o hino do Padroeiro ou Padroeira na sua festa, ou um hino em honra da Mãe do Senhor em alguma de suas comemorações, que ele seja cantado com a presença de todo o mundo, logo após a bênção, antes do “Ide em paz”.
12) Silêncio

Oportunamente, como parte da celebração, deve-se observar o silêncio sagrado. A sua natureza depende do momento em que ocorre em cada celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, cada fiel se recolhe; após uma leitura ou homilia, meditam brevemente o que ouviram; após a comunhão, enfim, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração.

A celebração deve comportar uma revalorização do silêncio, dentro de uma liturgia que, no espaço de poucos anos, passou de um acontecimento silencioso a uma vivência por demais sonora, cheia de palavras e música; ainda mais que o povo, às vezes, vem para a celebração depois de ter sido fortemente “bombardeado” por um ambiente musical atordoante, ao longo do dia. Grande é a responsabilidade de encontrar um equilíbrio para esta questão.

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